domingo, 21 de março de 2010

ela é que é louca.

minha primeira semana de estágio se foi.

Uma nova rotina, horários, prontuários, entrevistas, assembléias, reuniões, jaleco impecável, sapato fechado, cabelo arrumado, e um sorriso constante na cara. Mas o mais dificil pra mim está sendo ter que ficar calada. Ver coisas absurdas acontecendo e todo mundo achando normal, todo mundo exercitando plenamente seu lado conformista. Meu lado conformista ta totalmente sedentário, ele não costuma se exercitar, pelo contrário, nem me lembro aqui se ele ja teve algum dia de glória intensa.

To acostumada com a rotina da universidade, horários flexíveis, reuniões democráticas, assembléia de estudantes, chinelas havaianas e all star e cabelo de qualquer jeito. Essa coisa de entrar na linha é dificil (parece que sou um bandido do tráfico tentando se regenerar)mas eu tenho que tentar. A minha maior reclamação diz respeito ao horário dos outros profissionais do hospital. o médico trabalha em torno de três horas semanais, a enfermeira umas oito horas, a psicóloga trabalha umas vinte horas e a assistente social trabalha umas 30. Por que o tempo do médico tem mais valor que o tempo da assistente social? os dois não estudaram na universidade? os dois não tem pós graduação e registro no conselho de classe? o estudo do médico é mais dificil? quem disse? e o pior é que alem de tudo, ele trabalha so essas três horas e deve ganhar o dobro da assistente social. ISSO É UM ABSURDO!

Mas a minha supervisora falou que eu tenho que aprender a me calar nas horas certas, que é assim mesmo, que as coisas eram assim desde sempre tudo isso so por que eu falei na reunião da equipe técnica do hospital algo como "ei, vocês não tem que cumprir um horário não? tipo assim um expediente?" eles ouviram, entenderam, se chatiaram, mas mudaram de assunto pra não me responder.

e eu fico nessa luta interna terrivel: falar ou me calar? me fingir de morta ou lutar pelo que é certo? justiça ou não ser expulsa de lá?

taylor, o que você acha disso?


Bom, pelo menos os pacientes são muito bons, gosto de conversar com eles, de saber de suas histórias, de seus sofrimentos, de como são pessoas guerreiras.

tô pensando em organizar eles pra gente fazer um protesto contra essa folga toda do médico e da enfermeira, será que vai dar certo?

3 comentários:

May Stéphane disse...

Infelizmente é assim. E se a gente reclama, esperneia, acaba sobrando pra gente. Os mais fortes contra os mais fracos. Quem vence na maioria esmagadora das vezes? Tá, médicos e enfermeiros estão sempre cuidando da vida dos outros, que algumas vezes estão em risco. Mas professores (agora puxando brasa pra minha sardinha) arriscam suas vidas dando aulas. Minha professora de Psicologia da Educação já teve que se esconder embaixo da mesa durante uma troca de tiros dentro da sala de aula. E policiais, que arriscam suas vidas todo santo dia e recebem bem pouco? Mas nas camadas sociais - e aqui sou contra o que Marx dizia sobre dominantes e dominados - o interesse das elites quase sempre ganha. E eles não querem que isso mude. Quem tem mais dinheiro e poder é que decide. Por mais que isso causa um furacão dentro da gente de insatisfação.

João disse...

Saiba, isso funciona assim em todos os lugares. Onde eu trabalho o meu chefe supervisiona o próprio ponto, então ele abona as próprias faltas e atrasos, enquanto eu tenho que fazer relatório pra justificar até minhas horas extras, caso queira que elas sejam pagas. O mundo profissional não é mais justo do que o mundo universitário, com a diferença de que no segundo a gente ao menos podia falar alguma coisa...

Anônimo disse...

nao funcionara nao.
ja vi estagiaria sendo expulsa do local do estagio por querer mudar a rotina de la.

=/

beijos