quarta-feira, 31 de março de 2010

dizem que sou louco, por eu ter um gosto assim.

oi taylor, como você tá? vai viajar na semana santa? eu vou pro interior da familia da minha mãe, e já estou sofrendo por antecipação. muitas crianças, zuada, barulho (muito pleonasmo aqui, não?) , carros de som, meus tios bebâdos, minhas tias comentando da minha vida, meus tios me humilhando por que eu faço serviço social e não direito, todos os meus parentes alfinetando uns aos outros sobre quem tem mais dinheiro e eu tentando enfiar minha cara em algum buraco ou me pintar da cor da parede pra ver se ninguém me nota.

Bom, mas enquanto o feriado não vem, quero dizer que minha semana lá no estágio foi muito boa, tem um paciente lá, o seu edimilson, que é um senhor de 53 anos de idade e eu gosto muito de conversar com ele, hoje ele falou pros outros pacientes que eu sou muito conversadera e inteligente e que eu divirto eles e que é muito bom me ter por perto, outros pacientes tambem concordaram com ele, disseram que é bom quando eu chego contando minhas piadas, falando da minha vida que assim eles se distraem e esquecem das "coisas ruins na cabeça".

Eu fiquei me sentindo tão bem quando ouvi isso, me sentindo útil, por que apesar da minha supervisora ter me dito trocentas vezes pra manter uma postura profissional, pra manter uma distancia entre mim e os pacientes eu não acho que seja assim que a coisa deva funcionar, eu acho que o tratamento deve ser o mais humanizado possivel, que a gente deve tratar o paciente como nós gostariamos de ser tratados, conversar, abraçar, ouvir, cuidar. Já é um sofrimento danado ser uma pessoa com transtorno mental, pra que transformar o tratamento dessa pessoa em mais outro transtorno?

Eu detesto ficar lá sentada na sala do serviço social, vendo papéis, carimbos e manuais reproduzindo a burrocracia estatal, eu gosto mesmo é de estar perto deles, conversando fiado, divertindo, contando piadas, tentando transformar aquele periodo de tratamento no menos doloroso possivel, eu já ouvi que eu sou assistente social e não palhaça, mas por que não posso ser as duas coisas? por que eu não posso ser um ser humano com eles? tenho que sempre ser uma máquina que só reproduz conceitos teórico-metodológicos?

Até por que, eu me sinto como um deles, eu sou um deles, e por isso mesmo me sinto bem a vontade estando com eles.


Se ser normal é aprender a ser besta e a reproduzir uma ordem social excludente e cruel, prefiro ficar assim, com meu jeito louco de trabalhar.

6 comentários:

Suzy Tiberly disse...

Sobre a humanização da saude, o coração, e mais outras coisas lindas! Super sua fã Fernanda!

... disse...

Muito bom saber que existe pessoas humanas e com coração, como você, disposta a ajudar as pessoas!

Dou a maior força!

João disse...

Eu não conheço nada sobre a área, então opinar é algo complexo, mas acho que nesse tipo de contexto as pessoas precisam do tratamento mais humano e pessoal possível...

Anônimo disse...

adorei...

so toma cuidado com o nome do paciente exposto!!!!

Jow, o grande. disse...

Pronto, terminei de ler os textos do seu blog que eu não tinha lido.

E vendo o tanto de assunto que você tá acumulando eu percebo o quanto é ruim não conversar com você.

Unknown disse...

Gostei da parte "uma máquina que só reproduz conceitos teórico-metodológicos" :D